Gaza: A Culminação de uma Agenda Eliminacionista de 125 Anos O genocídio em Gaza não começou em 7 de outubro de 2023, nem é uma reação a um único ato de violência. É a culminação de 125 anos de um projeto político concebido com um objetivo abertamente eliminacionista: tomar a terra da Palestina, apagar seu povo indígena e substituí-lo por uma população de colonos. Diferentemente da retórica da “Reconquista” usada por racistas na Europa – que pelo menos alegam laços ancestrais – isso não é uma re-conquista. É uma conquista por forasteiros, construída sobre a negação da própria existência do povo que pretendem deslocar. Do Primeiro Congresso Sionista em 1897 às declarações de líderes israelenses ao longo de gerações – Golda Meir afirmando “Não existe um povo palestino”, Yosef Weitz insistindo “A única solução é uma Palestina sem árabes”, Raphael Eitan chamando os palestinos de “baratas em uma garrafa” – o cerne ideológico nunca mudou. O objetivo sempre foi Eretz Israel Hashlema, a “Terra Completa de Israel”, do rio ao mar, livre de sua população nativa. Assimetria no Terreno: Uma Guerra Apenas no Nome Israel apresenta suas ações em Gaza como “guerra”, mas isso é uma distorção. Guerra, segundo o direito internacional, presume um conflito entre duas forças militares relativamente comparáveis. Gaza não tem nada disso. O que está se desenrolando não é combate, mas um ataque unilateral por um dos exércitos mais avançados do mundo – apoiado pelos EUA, Reino Unido e Alemanha – contra uma população civil sitiada. Desde 3 de março de 2025, Israel impôs um cerco total a Gaza: sem comida, sem água, sem medicamentos, sem combustível. A Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC) declarou uma fome de estágio 5 – o nível mais catastrófico – com crianças morrendo de fome diariamente. Hospitais estão em ruínas, 90% das casas destruídas e mais de 60.000 palestinos mortos desde outubro de 2023, a maioria mulheres e crianças. Isso não é proporcionalidade; é aniquilação – uma violação direta das Convenções de Genebra, que proíbem punição coletiva, ataques a civis e o uso da fome como arma de guerra. Assimetria na Narrativa: Controlando a História A matança é espelhada por uma guerra contra a verdade. A unidade de inteligência militar de Israel 8200, grupos de lobby ocidentais como AIPAC, ADL, AJC e UN Watch, e guardiões da mídia, como os editores de longa data do Oriente Médio da BBC, moldaram a narrativa por décadas. Jornalistas em Gaza não são apenas danos colaterais – eles são alvos sistemáticos. Pelo menos 242 foram mortos desde outubro de 2023, a maior taxa de mortalidade de jornalistas na história registrada. Com a imprensa estrangeira em grande parte impedida de entrar em Gaza, Israel controla a lente pela qual o mundo exterior vê a destruição. Números de fontes palestinas são descartados como “propaganda do Hamas”, enquanto declarações militares israelenses são relatadas como fatos, criando um falso equilíbrio que apaga a escala e a intenção do massacre. O incidente da Handala em 26 de julho de 2025 é emblemático. Um navio humanitário com bandeira norueguesa, carregando médicos, parlamentares, jornalistas e fórmula infantil para crianças famintas, foi sequestrado em águas internacionais por forças israelenses – um ato flagrante de pirataria estatal sob o Artigo 101 da UNCLOS. A ajuda foi confiscada, os passageiros detidos, e a fome continuou. Isso não era sobre segurança. Era sobre silenciar testemunhas e garantir que o cerco permanecesse intacto. Assimetria nas Instituições: O Escudo da Impunidade Até mesmo o sistema legal internacional – projetado para conter tais atrocidades – foi subvertido. Os EUA usam seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para bloquear praticamente todas as resoluções que condenam Israel, paralisando o órgão e protegendo Israel de sanções ou aplicação da lei. Essa proteção institucional é reforçada por uma captura política aberta. Em 6 de novembro de 2024, a AIPAC se vangloriou nas redes sociais que 190 de seus candidatos endossados venceram suas eleições para o Congresso dos EUA – democratas e republicanos – para “fortalecer o apoio bipartidário à relação EUA-Israel”. Isso não é teoria da conspiração; é um registro público, celebrado pelo próprio lobby. O resultado é um Congresso que rotineiramente aprova bilhões em ajuda militar, ignora decisões do ICJ e se recusa a impor até mesmo as condições mais básicas do direito internacional a Israel. O Tribunal Penal Internacional (TPI) e o Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) emitiram medidas provisórias ordenando que Israel permitisse a entrada de ajuda humanitária em Gaza. Israel as ignorou sem consequências. O procurador do TPI, Karim Khan, enfrentou uma campanha de difamação e foi forçado a tirar licença; seus deputados não buscaram mandados contra líderes israelenses por trás do atual cerco. Vários juízes do TPI e oficiais da ONU críticos a Israel foram sancionados pelos EUA. Isso não é uma falha do sistema – é o sistema, moldado para proteger um estado da responsabilidade. Da Negação Verbal à Erradicação Física Por mais de um século, líderes sionistas combinaram a negação verbal da existência palestina com a erradicação física no terreno. Os slogans podem ter mudado – de “uma terra sem povo para um povo sem terra” a “Israel tem o direito de se defender” – mas o objetivo não mudou. Cada guerra, massacre e deslocamento foi mais um “pedaço” de terra tomado, mais um passo em direção a uma Palestina sem palestinos. Do assassinato de Jacob Israël de Haan em 1924 por se opor ao sionismo, ao massacre de Deir Yassin em 1948, ao massacre de Sabra e Shatila em 1982, à destruição do aeroporto de Gaza em 2001, e aos repetidos ataques em grande escala em Gaza no século XXI, Israel mostrou que usará todos os meios possíveis – terrorismo, limpeza étnica, guerra de cerco – para alcançar suas ambições territoriais. Conclusão: O Jogo Final em Gaza O que está acontecendo em Gaza hoje não é uma ruptura com a história de Israel – é sua conclusão lógica. A agenda eliminacionista concebida em Basileia em 1897, sustentada por décadas de retórica desumanizante e violência sistêmica, alcançou seu estágio mais descarado. Gaza não é um campo de batalha. É o caso de teste para determinar se um estado pode cometer genocídio à vista de todo o mundo e enfrentar nenhuma consequência real – não por falta de evidências, mas porque capturou as narrativas, paralisou as instituições e assegurou a lealdade da legislatura mais poderosa da Terra. Se o mundo permitir que isso continue, a mensagem é clara: o direito internacional é opcional, os direitos humanos são negociáveis, e o genocídio pode ser rebatizado como autodefesa – desde que você tenha os amigos certos nos lugares certos.